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Uma reflexão sobre a pós-graduação no Brasil


Importância da pesquisa científica


Inicialmente quero reiterar a importância da pesquisa científica em um âmbito geral. A pesquisa científica permite que conceitos aprendidos dentro de um contexto acadêmico sejam utilizados para investigar e resolver problemas relevantes dentro de nossa sociedade. Um país que investe em educação tende a ter um maior nível de desenvolvimento e crescimento. Desde crises sanitárias (como foi a pandemia da Covid-19) até erradicação de doenças devem suas melhorias e resoluções a diversos pesquisadores. E cada vez mais, se torna primordial a ação da ciência em todos os campos da nossa vida para minimizar e solucionar problemas inerentes ao mundo em constante evolução (tecnológica, populacional, entre outros).


Para contextualizar melhor, citarei algumas grandes descobertas científicas históricas de brasileiros: Carlos Chagas foi o primeiro na história da medicina a traçar o ciclo completo de uma doença com a Doença de Chagas, Johanna Döbereiner identificou tipos específicos de bactérias fixadoras de nitrogênio, diminuindo o impacto ambiental e barateando uma das maiores exportações brasileiras (soja) e Marcos dos Mares Guia descobriu um método de fabricação de insulina utilizando bactérias, diminuindo o custo da produção. Esses três exemplos demonstram o quanto a ciência auxilia em diferentes campos de nosso dia a dia, mas existem inúmeros, com pesquisas impactando em diferentes graus situações que nem imaginamos, mas afetam nosso cotidiano.


Cenário da pós-graduação


É estimado que 90% das pesquisas brasileiras ocorram dentro de universidades públicas e existem algumas instituições que auxiliam com bolsas de pesquisa, privadas ou públicas, mas as mais conhecidas são CNPq e CAPES. O CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - está vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e tem como objetivo fomentar a pesquisa e desenvolvimento científico no Brasil. Já a CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - é relacionada ao Ministério da Educação e é responsável pela expansão e consolidação da pós-graduação no país. Desde 2015 ambos órgãos vêm sofrendo com sucessivos cortes, prejudicando pesquisas em andamento e consequentemente o futuro desenvolvimento científico e econômico do país. Ambas instituições oferecem bolsas de pesquisa para estudantes de pós-graduação.


De forma geral, as bolsas de pesquisa brasileiras já são consideradas ínfimas, quando comparadas a outros países. Por exemplo, na CAPES o valor da bolsa de mestrado é de R$1.500, a de doutorado R$2.200 e a de pós-doutorado R$4.100. Já no CNPq, elas variam entre R$4.100 e R$7.100, dependendo da categoria e enquadramento do pesquisador. Essas bolsas, normalmente, pedem dedicação exclusiva e não constam como vínculo empregatício, obstruindo a possibilidade dos pesquisadores trabalharem e estudarem de forma simultânea. Mais ainda, com cada vez mais cortes nas verbas dessas instituições se torna difícil garantir o pagamento desses valores para os acadêmicos que vivem apenas com eles. Além disso, os valores não apresentam atualização com a inflação brasileira, reforçando a situação de precarização que os pesquisadores do Brasil se encontram.


A termo de comparação, alguns exemplos de bolsas/auxílios em outros países serão mencionados*. A Universidade de Harvard, nos EUA, concede bolsas de 70 mil dólares anuais (aprox, 31.362 reais por mês) para pós doutorado, a Universidade de Amsterdam, na Holanda, concede auxílio e bolsa de 25 mil euros anuais (aprox, 10.864 reais por mês) para estudantes de mestrado em Comunicação e a Universidade de Sydney oferece bolsas de 35 mil dólares australianos (aprox, 10.816 reais por mês) para alunos internacionais em programas de mestrado ou PhD. Dessa forma, fica mais fácil visualizar o porquê da diferença de desenvolvimento científico do Brasil e outros países, considerados (mais) desenvolvidos. Também traz à tona uma outra discussão, a respeito da fuga de cérebros.


Relacionada com baixo valor das bolsas, a falta de perspectiva de contratação no Brasil e o aumento de programas de atração de estrangeiros no exterior, a fuga de cérebros é um fenômeno difícil de mensurar, pois quando é realizada, as pessoas ficam vinculadas a instituições estrangeiras. Mas é perceptível o aumento de eventos e oportunidades ajudando jovens pesquisadores a saírem do país em redes sociais e grupos da internet. Essa situação é gravíssima, pois ao perdermos esses cientistas também se perde todo o conhecimento especializado que eles possuem - algo que com certeza será sentido no futuro.


Considerações finais


Com isso, devido a dificuldade que é se manter financeiramente e emocionalmente durante uma pós graduação (pagar aluguel, alimentação, publicar em revistas de alto nível, participar de eventos em diversas cidades, entre outros) é fácil esquecer da importância de reivindicar seus direitos. O medo de perder uma bolsa pode acabar sobrepondo sua necessidade individual acima do coletivo, impedindo manifestações e paralisações dos acadêmicos. Igualmente essencial é a divulgação dos resultados de suas pesquisas, para enfatizar e conscientizar a sociedade da relevância da pesquisa e desenvolvimento científico em diversos contextos. Dessa forma, a população em geral também reforçaria o incentivo a políticas públicas que apoiem a ciência. Concluo aqui, parafraseando a famosa frase de Darcy Ribeiro “A crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”. É importantíssimo lembrar que a falta de recursos para a pesquisa apresenta consequências terríveis para nosso país, diminuindo nossa soberania - nos mantendo dependentes dos países denominados desenvolvidos - e aumentando o abismo da desigualdade social, elitizando o acesso à academia.


*valores referentes aos anos de 2020 e 2021 que foram convertidos para reais supondo o câmbio de 29/08/2022 (1 dólar = 5,38 reais, 1 euro = 5,21 reais, 1 dólar australiano = 3,49 reais)


REFERÊNCIAS:













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