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Os desafios da produção científica entre mulheres de baixa renda



“Gostaria de aproveitar esse momento para dizer a todas as garotinhas por aí, que sonham com a ciência como profissão: façam isso! É o melhor trabalho do mundo. Se alguém falar que você não consegue, não escute.” Com essa frase, Amy Farrah Fowler, personagem fictícia da série The Big Bang Theory, finaliza parte de seu discurso em sua premiação com um Nobel da Física. Entretanto, apesar da personagem buscar motivar as meninas a seguirem carreiras científicas, é notório as diversas dificuldades que esse público sofre na perseguição desses sonhos. No campo da pesquisa científica, a disparidade de gêneros mostra-se latente. Quando acrescida à desigualdade social, o sonho de carregar o título de cientista torna-se ainda mais distante e repleto de desafios.


É importante destacar o quanto a carreira científica foi atribuída a homens ao longo dos séculos. Ao perguntar para qualquer pessoa – inclusive crianças – o nome de cientistas brilhantes, notar-se-ão respostas como Albert Einstein, Tesla, Isaac Newton e Darwin. Pouquíssimas pessoas se recordam de mulheres, como as ilustres Marie Curie, Ada Lovelace ou Alice Ball. Segundo um artigo publicado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, numa pesquisa realizada em 2014 envolvendo um grupo de alunos, 78% dos discentes representaram um cientista como alguém do gênero masculino. Na cinematografia não é diferente. Basta buscar qualquer filme envolvendo ciência que se percebe a predominância de homens em papéis liderando grandes pesquisas ou missões. Até mesmo nos famosos filmes de super-heróis, os heróis [geniais] exibem seus cérebros, em projetos científicos e vestindo roupas apropriadas dentro de grandes laboratórios, enquanto as heroínas [geniais, também] exibem seus corpos, em trajes apertados e nem um pouco apropriados para laboratórios – dos quais, na verdade, elas permanecem distantes. Diante disso, é possível inferir que as meninas crescem com esses estereótipos em mente, atribuindo a carreira científica ao público masculino, com destaque para as garotas de baixa renda.


Ressalta-se também, como obstáculo para a produção científica feminina no Brasil, que mesmo sendo maioria na graduação e pós-graduação no Brasil, as mulheres representam minoria no campo docente e de pesquisas, constituindo apenas 34,2% do total de bolsa produtividade do CNPq – apesar de que as mulheres representam 72% da produção dos artigos nacionais. Esses números demonstram o descaso público governamental em incentivar mulheres nas carreiras científicas. Trabalhos voluntários que buscam engajar o público feminino nessas áreas – como o próprio STEM Para as Minas – também não recebem visibilidade midiática nem algum incentivo público ou privado para manter-se ativo.


Quando se olha para dentro das comunidades carentes, essa desigualdade que adentra o campo econômico, social e profissional se exibe fortemente. Não há trabalhos com garotas; faltam laboratórios e equipamentos científicos dentro das escolas e políticas que busquem reverter essa situação que causa constrangimento àquelas que querem um jaleco e óculos de proteção em seu dia a dia trabalhista.


Diante do exposto, urge que medidas sejam tomadas para que as mulheres – principalmente as de baixa renda – ganhem palco (ou laboratórios). Precisa-se desmistificar que a carreira científica é masculina, através da promoção de mulheres nesses papéis na indústria do cinema, da visibilidade midiática e do incentivo escolar com as alunas. Equipar laboratórios, promover palestras com pesquisadoras falando sobre mulheres na ciência não deveria ser uma utopia ou sugestão nesse texto, mas uma realidade no Brasil; afinal, a ciência também é para elas.


Autora: Ailimyne Ferreira Barros



Referências


Desigualdades de gênero por área de conhecimento na ciência brasileira: panorama das bolsistas PQ/CNPq https://scielosp.org/article/sdeb/2021.v45nspe1/83-97/pt/



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