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Influência da IA no aprendizado: vale a pena estudar se o ChatGPT já tem a resposta para mim?


Autoria de Gabriela Valente


Antes do ChatGPT surgir, a internet já era uma fonte interminável de informações. Ao jogar alguma pergunta no Google, por exemplo, tínhamos milhões de sites com as respostas em segundos. A Plataforma ChatGPT, que estourou esse ano (2023), utiliza um algoritmo baseado em redes neurais que permite estabelecer uma conversa a partir do processamento de um imenso volume de dados. A partir do surgimento deste, já estão sendo criados novos modelos de IA semelhantes. O foco desse texto não se concentra em ‘como mais uma fonte de busca interfere na vida acadêmica de um estudante’ mas sim em como essa nova fonte pode impactar a capacidade cognitiva dos mesmos.


Por que devemos ter essa preocupação?


Vivemos em uma era de constantes mudanças e avanços tecnológicos, e é muito provável que você, leitora, já tenha nascido em um período em que a internet era uma realidade. E caso tenha vivido essa transição, deve lembrar como a chegada da internet foi revolucionária. Antes, era necessário caminhar até uma biblioteca e se empilhar em cima de vários livros para obter informações e fazer pesquisas, enquanto hoje essa busca se tornou tão simples com apenas o digitar de uma palavra chave numa caixa de busca online.

Até o ChatGPT surgir, é possível que você nunca tenha percebido que estava tendo contato direto com uma Inteligência Artificial, mesmo que elas já estivessem ao nosso redor. O Google, por exemplo, ao longo de sua evolução, foi aprimorando cada vez mais o seu mecanismo de busca, transformando-se em uma poderosa ferramenta capaz de identificar e fornecer informações de maneira instantânea.


Mas o que diferencia o Google do ChatGPT?


O Chat GPT foi treinado com milhares de informações baseado em linguagem humana. O banco de dados do Chat GPT é basicamente tudo que já está na internet. Ao fazer uma pesquisa no Google, você recebe diversas opções para a mesma busca. O ChatGPT, por outro lado, faz um "resumo" disso e te oferece as informações mais específicas de acordo com o que você digitou. Vou dar um exemplo, digamos que você pesquise algo simples como ‘Como fazer um bolo de chocolate”. O Google provavelmente irá te retornar com diversas receitas diferentes e você teria que escolher uma, ou gastar tempo lendo uma a uma até achar a que te agrade, não é?


E agora digamos que você pergunte a mesma coisa para o ChatGPT. O algoritmo do ChatGPT vai processar as informações para realizar um cruzamento de dados e, a partir disso, vai te responder com uma única receita de bolo de chocolate, que foi o que você pediu. Mas de onde é essa receita? Quem a criou? Provavelmente não é uma receita de ninguém em específico, o que ocorre por trás desta pesquisa é uma consulta com base treinamento de dados (deep learning) onde ele vai te retornar respostas com base em informações aprendidas. Em outras palavras, a receita do bolo é um conjunto de várias receitas da internet ou provavelmente a receita mais comum ou apropriada.


Há alguma diferença em pesquisar esta receita no Google ou no ChatGPT? Bem, você quer uma receita de bolo não importa de onde vem, certo?


Outro exemplo interessante a considerar é se você é alguém que deseja substituir algum ingrediente na receita, por exemplo o 'leite de vaca' por 'leite de amêndoas'. Caso queira confirmar se essa troca ainda resultaria em um prato saboroso, é provável que no Google, você encontre uma resposta anterior a essa questão. Em algum site, alguém já pode ter feito essa pergunta e recebido uma resposta que compartilha a experiência da pessoa em relação a essa substituição de leites.


Já consultando o ChatGPT sobre a viabilidade de substituir o leite convencional pelo leite de amêndoa, ele apresentaria uma resposta fundamentada em dados disponíveis em seu banco de informações. Contudo, essa resposta pode ou não ter sido validada por alguma experiência real, o que significa que a confiabilidade da sugestão para efetuar essa troca pode variar.


O que isso quer dizer exatamente? Que não posso confiar no que o ChatGPT responde?


Não exatamente dessa forma, mas desde o seu lançamento, inúmeras pessoas que experimentaram essa I.A. afirmam que suas fontes nem sempre são precisas, podendo fornecer informações incorretas ou até mesmo fictícias (inventadas). Isso implica que é prudente não aceitar cegamente tudo o que essa inteligência artificial lhe comunica.

Dito isto, vamos falar um pouco do mundo acadêmico e da vida estudantil após a chegada do ChatGPT?


Como usar as inteligências artificiais a seu favor?


Primeiramente, é importante ressaltar que existem muitos modelos de linguagem e aprendizado, mas estamos focando no ChatGPT por ter sido o pontapé inicial para este assunto vir à tona.


Os modelos de inteligência artificial trazem a facilidade de encontrar informações e conseguir alcançar resultados específicos que apenas uma busca no Google não te trariam com facilidade. Por exemplo: revisar ou fazer uma escrita do 0, perguntas objetivas sobre fatos históricos ou atuais, respostas para cálculos e enunciados de questões e provas, resumos de temas ou assuntos, traduções mais realistas para inúmeros idiomas, revisão e criação de códigos de programação, entre outros.


Seria correto concluir que o ChatGPT poderia executar todas as minhas tarefas acadêmicas, solucionar desafios profissionais, realizar cálculos exigidos em avaliações e até mesmo redigir meu Trabalho de Conclusão de Curso?


Por mais que você tenda a responder que sim, a resposta é NÃO. Nem o ChatGPT nem nenhuma I.A é capaz de fazer todas as atividades da sua vida. Por que? Ele não faria um TCC bom ou faria um bom trabalho da faculdade? Não é o que eu estou dizendo. Digamos até que o chat poderia ser capaz de alcançar altos níveis de escrita acadêmica, de lógica de programação e conhecimento de linguagens, mas o que faz nossas atividades terem o objetivo atingido é a nossa essência.


Nós estamos vivendo uma evolução absurda da inteligência artificial e, sinceramente, hoje mais do que nunca, é imprescindível otimizar nossas atividades a fim de direcionar nossa atenção para o que verdadeiramente importa. E diante da evolução exponencial da tecnologia que o mundo vivencia neste momento, o que exatamente se torna crucial?

Se sua resposta for algo próximo a ‘estudar’, ‘trabalhar’ e ‘buscar por conhecimento’, eu concordo plenamente com você.


Terceirizar sempre foi uma opção


Ao longo do tempo, terceirizar tarefas sempre foi uma alternativa disponível. Desde a última década, já era possível recorrer à internet para encontrar respostas para tarefas escolares, utilizar softwares para revisar trabalhos acadêmicos, aproveitar recursos como o Stack Overflow para resolver dúvidas de programação e utilizar modelos prontos de planilhas.

No entanto, o que se destaca agora é a maior facilidade em realizar essas ações. Se você está se questionando sobre até que ponto é apropriado terceirizar uma tarefa, aqui está a resposta: considere que está utilizando ferramentas para simplificar sua vida. Em outras palavras, é aceitável aprimorar um parágrafo, buscar sinônimos para algo que já escreveu, pesquisar por autores relevantes, criar legendas ou verificar as respostas corretas em um teste que já realizou. No entanto, pode ser prejudicial quando essa “terceirização” se resume a um simples copia e cola (CTRL C + CTRL V).

Estou redigindo com uma perspectiva centrada na importância da educação como um processo de desenvolvimento dos indivíduos por meio do pensamento crítico. Parafraseando as palavras de Paulo Freire: "Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando". Neste ponto, desejo mencionar que em minha perspectivar “aprender a caminhar” corresponderia a trilhar o próprio percurso de vida de forma independente, sendo capaz de progredir sem depender excessivamente de suporte externo. Isso não implica em rejeitar a ajuda, mas sim em ser capaz de avançar sem depender exclusivamente dela.

A ideia de “fazer o caminho caminhando” implica reconhecer que os seres humanos são imperfeitos. Por exemplo, o trabalho gerado pelo ChatGPT pode não necessariamente resultar em um aprendizado significativo... Da mesma forma, um diploma conquistado através desse tipo de conhecimento pode não ser uma verdadeira evidência do domínio adquirido, já que ele não foi adquirido através da jornada de aprendizado autêntica.

Isso destaca o ponto de que o processo de aprendizagem genuína muitas vezes envolve percorrer um caminho de crescimento e experiência, algo que não pode ser completamente substituído por atalhos ou métodos mais envolventes.


E afinal: por que eu devo estudar se o ChatGPT já tem a resposta pra mim?


Neste texto, meu objetivo é realmente abordar a questão: 'Por que devo estudar se o ChatGPT já tem as respostas para mim?'. E a resposta é a seguinte: você deve estudar porque é um ser humano com a capacidade de desenvolver habilidades incríveis. Habilidades tão incríveis que foram essenciais para a construção da vasta rede de inteligência artificial que você utiliza. São habilidades singulares, que não apenas te distinguem de outros seres humanos, mas também, e principalmente, te diferenciam de máquinas

Você deve estudar, pois a educação é a chave para alcançar os seus sonhos. A importância dessa resposta fica clara se você busca se destacar e não deseja ser apenas mais um indivíduo. Não quer ser apenas mais um na escola, mais um na faculdade, mais um na pós-graduação, mais um no ambiente profissional, ou mais um ao longo de sua trajetória profissional.


Então se você quer utilizar essas ferramentas para o seu aprendizado, segue algumas dicas:

  • Faça perguntas claras, específicas, e tenha um background do que você está perguntando. Não use apenas o chat como fonte primária de sua pesquisa.

  • Avalie e reavalie tudo que foi devolvido em sua pesquisa. Entenda o problema, reveja, veja se faz sentido a solução que foi sugerida.

  • Pesquise em outros lugares: não perca o hábito de pesquisar. Utilize a internet, o google, artigos, outras fontes de pesquisa.

  • Se usar o ChatGPT em algum trabalho ou atividade acadêmica, não se esqueça de citá-lo como fonte de pesquisa ou referência.

Encerrando, gostaria de compartilhar uma citação do palestrante Grady Booch, extraída de uma parte de sua TED Talk sobre 'Superinteligências':


“Nós estamos vivendo uma jornada incrível de coexistência com nossas máquinas. Os seres humanos que somos hoje não são os seres humanos que seremos depois… O crescimento da própria tecnologia traz para nós uma série de questões humanas e sociais às quais devemos dar atenção agora. Como podemos trazer compreensão e educação a todo mundo por meio de acesso a tecnologia? Como posso ampliar e melhorar a vida humana através de assistência médica cognitiva? Como a tecnologia pode nos levar às estrelas? Isso é uma parte incrível! A oportunidade de usar tecnologia para avançar a experiência humana que está ao nosso alcance, e nós apenas começamos!” - Grady Booch


Nós estamos apenas começando!


Estamos verdadeiramente nos estágios iniciais dessa jornada. Estamos vivenciando um crescimento tecnológico exponencial e temos a oportunidade, e até mesmo a responsabilidade, de explorar todos os recursos disponíveis para alcançar conquistas que antes pareciam inalcançáveis. É possível construir uma carreira de sucesso enquanto utiliza os inúmeros recursos disponíveis para nosso crescimento?! A resposta é sim! Isso se aplica tanto ao uso do ChatGPT quanto de uma variedade de outros chatbots. Além disso, existe a opção de criar o seu próprio chatbot, caso seja pertinente aos seus objetivos!


É importante lembrar: à medida que a inteligência artificial evolui e se torna mais inteligente, isso traz benefícios, contanto que você também acompanhe esse progresso e enriqueça sua própria inteligência junto a ela :)


Um abraço e até a próxima!





Referências Bibliográficas


FIA. (2021). ChatGPT: A revolução da interação com inteligência artificial. Disponível em: https://fia.com.br/blog/chat-gpt/. Acesso em: 10 de julho de 2023.


OpinionBox. (2020). Explorando as possibilidades do ChatGPT. Blog OpinionBox. Disponível em: https://blog.opinionbox.com/chat-gpt/. Acesso em: 15 de julho de 2023.


CUSTÓDIO, Fernando. (2022). O impacto do ChatGPT no Brasil. Sintrasp. Disponível em: https://sintrasp.com.br/o-impacto-do-chat-gpt-no-brasil-artigo-de-fernando-custodio/. Acesso em: 16 de julho de 2023.


IFSC. (2023). Quais os impactos do ChatGPT e da inteligência artificial na educação? IFSC Verifica. Disponível em: https://www.ifsc.edu.br/web/ifsc-verifica/w/quais-os-impactos-do-chatgpt-e-da-inteligencia-artificial-na-educacao-. Acesso em: 11 de julho de 2023.


BOOCH, Grady. (2017). Don't fear superintelligent AI. [Vídeo]. TED. Disponível em: https://www.ted.com/talks/grady_booch_don_t_fear_superintelligent_ai?language=en.


FYSHE, Alona. (2019). Does AI actually understand us? [Vídeo]. TED. Disponível em: https://www.ted.com/talks/alona_fyshe_does_ai_actually_understand_us?language=en&subtitle=pt.


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