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Empoderamento feminino através da prática de luta



Por Caroline Machado


Quando criança, meu pai me colocou no karatê para eu aprender a me defender. Na época, não lembro se gostei, mas recordo que não entendi. Conforme fui crescendo, ficou cada dia mais fácil compreender o porquê dessa decisão. Desde cada carro buzinando enquanto eu caminhava até ser seguida na rua por várias quadras, a ideia de meu pai ia se justificando.


Saber se defender é importante para todos, mas especialmente para minorias que podem sofrer assédios e agressões a qualquer momento. A autodefesa não envolve apenas se defender fisicamente, mas sim aumentar seus reflexos, desenvolver raciocínio rápido e melhorar o seu autocontrole. Basicamente, saber quando e como se defender, mesmo que a melhor defesa seja uma fuga (a maior parte dos casos).


Além da autodefesa, a prática de luta ajuda a desenvolver a consciência corporal e principalmente, a autoestima. Isso é essencial para nos tornarmos mais confiantes e seguras de si, em diversos contextos sociais. No geral, os agressores preferem escolher as “presas” mais fáceis, aquelas que provavelmente não vão revidar ou que não estão muito atentas. Uma mulher andando de forma mais segura e atenta ao ambiente minimiza a chance de um ataque.


A autoconfiança e a autoestima aumentam muito, pois há uma melhoria na sua saúde, visto que a prática de exercícios diminui a chance de problemas associados à obesidade e sedentarismo, como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. E sabemos que se sentir bem com você mesma também é uma forma de empoderamento.


Mais ainda, desde pequenas escutamos que certas coisas são “coisas de menino”, como esportes, no geral. No caso específico de lutas, por envolverem força e “agressividade”, quando praticadas por mulheres, estas são julgadas por pessoas de diferentes gerações. Por isso, a própria prática de treinar uma luta já é por si só um manifesto contra esses estereótipos de gênero, provando para você mesma (e para os outros) que mulheres podem fazer o que elas quiserem. Ao conquistar terreno em um ambiente tipicamente masculino, reafirmando a quebra das barreiras impostas por uma sociedade patriarcal, a autoestima e autoconfiança aumentam mais ainda.


Difícil contabilizar a quantidade de vezes em que fui subestimada por ser mulher durante os treinos, principalmente quando o treino era sparring (treino de técnica por meio de combate). De maneira geral, depois a pessoa acabava se desculpando pela atitude pois percebia que mulheres podem ser boas de luta (esperamos que notem também que elas podem ser boas no que se propuserem a ser), mas de qualquer forma é um movimento contínuo de desconstrução.


Por outro lado, praticando luta também conheci diversas mulheres de diferentes backgrounds, idades e ideologias que eu não teria a oportunidade de conhecer nos meus círculos usuais. Fiz amizades bastante construtivas e não só durante os treinos, mas também em competições e graduações, o apoio delas foi essencial para atingir os objetivos. Ter essa rede de apoio feminina é de grande importância e existem diversas academias que possuem horários apenas para mulheres que ajudam muito e podem ser uma maneira de iniciar a prática, sem precisar lidar com preconceitos.


Logo, fica aqui a minha dica para as mulheres de praticarem alguma arte marcial e/ou luta, existem diversas e você pode encontrar a que se sentir mais confortável em praticar. Existem lutas em pé como muay thai, boxe, kickboxing, karatê, taekwondo, entre outras. Lutas “no chão” como jiu jitsu e judô e também podem ser praticadas junto (em pé e no chão) com o MMA (mixed martial arts - artes marciais “misturadas”), bastante famoso devido ao UFC. Se quiser focar em autodefesa existe também o krav maga ou se quiser fazer uma luta que envolve dança e música, tem a capoeira. Enfim, tem espaço pra todo mundo na luta e com certeza irá te ajudar de maneiras que você nunca esperaria.


Referências








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