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Tecnologia para além das telas: o papel feminino

Não é incomum temas como “avanço tecnológico” serem pautados em discussões cotidianas. Atualmente, a popularização desses termos é tão forte que basicamente toda a sociedade os aborda com propriedade e possui opiniões a respeito das consequências desse processo. No entanto, será que essas pessoas realmente têm noção do que seria “tecnologia”? 


Quando alguém ouve essa palavra, as primeiras coisas que vêm à mente são provavelmente computadores, internet e inteligência artificial. De fato, a evolução digital é um marco transformador para como as sociedades funcionam e enxergam o mundo, mas a tecnologia não se limita somente a isso. A palavra “tecnologia” tem origem no grego "tekhne", que significa “técnica, arte, ofício”, seguido do sufixo “logia”, que significa “estudo”. Em linhas gerais, o sentido atribuído a tecnologia é o de utilizar técnicas, instrumentos e métodos para solucionar problemas e melhorar a vida dos indivíduos. Com um significado tão amplo, a tecnologia se desdobra de várias formas de acordo com as necessidades e estrutura de cada sociedade. Por isso, é necessário uma reflexão ainda mais crítica em como a sua utilização dialoga com problemas sociais já existentes, como a desigualdade de gênero. 


Como resultado de anos de luta por visibilidade e valorização da produção feminina, muitas mulheres conquistaram o crédito por sua contribuição tecnológica no decorrer da história. A exemplo, Ada Lovelace, uma mulher inglesa que, através da suas capacidades de observação e inovação, conseguiu visualizar em uma máquina analítica que buscava realizar apenas cálculos matemáticos o potencial de criar qualquer conteúdo, deixando anotações que a consagraram criadora do primeiro algoritmo e primeira engenheira de software. 


Assim como Ada, outras mulheres conquistaram seu espaço no conhecimento popular por suas invenções. Porém, a característica em comum entre essas mulheres é o nicho tecnológico voltado, mais uma vez, para os padrões mencionados no início do texto. Ao divulgar apenas as invenções voltadas para esse ramo - geralmente realizadas por mulheres de uma classe social mais privilegiada - é apagada a importância de feitos tecnológicos que não estão relacionados a aparelhos eletrônicos mas se enquadram no conceito de tecnologia ao solucionar problemas enfrentados pela população. Ao negligenciar essas invenções, o anulamento das contribuições femininas continua a ser perpetuado, além da imposição de uma hierarquia na importância do conhecimento produzido por mulheres, contribuindo com ambas as desigualdades de gênero e social. 


Exemplos de inovação


Tendo em vista que inovações digitais não foram as únicas a agregarem a evolução da sociedade, diversos outros nomes devem ser mencionados para exemplificar essa pauta. A título de exemplo, Melitta Bentz (1873-1950), uma dona de casa alemã, desenvolveu o primeiro filtro de café ao utilizar uma folha de papel com alguns furos para acabar com o incômodo dos pedaços de grão moídos ao ingerir a bebida. Sua invenção foi o pontapé inicial para se tornar uma grande empresária com um legado seguido até hoje por sua família. O limpador de para-brisa também tem autoria feminina. Mary Anderson (1866-1953), ao viajar em um bonde em Nova York em um dia de neve, identificou a dificuldade dos condutores em conduzir o veículo em climas como esse, tendo até mesmo que pará-lo, descer e limpar a janela para conseguir continuar. A partir disso, ela pensou em uma alavanca interna ao bonde que controlava um braço mecânico equipado com uma escova de borracha, sendo esse o primeiro dispositivo de limpeza de para-brisa, patenteado em 1903.

Desenho feito por Mary para patentear sua ideia
Desenho feito por Mary para patentear sua ideia

As mulheres brasileiras também se destacam por suas invenções. Therezinha Beatriz Alves, por exemplo, criou o escorredor de arroz, em 1950, pois a forma tradicional de utilizar uma panela para lavar e outra para escorrer não lhe fazia sentido. Apesar de não ter recursos para investir no início, em 1961 milhares de peças em plástico já haviam sido fabricadas através da empresa Trol.

Therezinha apresentando o escorredor de arroz
Therezinha apresentando o escorredor de arroz

Outro bom exemplo é a Chu Ming Silveira (1941-1997), Chinesa e naturalizada brasileira que viveu no país desde os 10 anos de idade, inventora do protetor para telefones públicos, popularmente conhecido como “orelhão”. Sua influência na indústria do design brasileiro perdura até os dias de hoje.

Chu Ming Silveira utilizando sua invenção
Chu Ming Silveira utilizando sua invenção

Trazer visibilidade para as inovações tecnológicas de forma ampla é essencial para valorizar o conhecimento de pessoas de todas as classes sociais, assim como desmistificar a ideia de que inovação e tecnologia é um ramo complexo e difícil de se introduzir. Assim como as melhorias eletrônicas são importantes, as invenções de itens mais “cotidianos” também trouxeram praticidade e impactos positivos nas sociedades. Dessa forma, incentivar a imersão tecnológica para o público feminino é, além de tudo, validar todas as formas de produção de conhecimento e dar visibilidade para a contribuição comunitária.


Referências

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