
Autoria de Safira Dias
O comércio de escravizados africanos se relaciona diretamente com trocas favoráveis entre indivíduos, seja dentro ou não dos limites territoriais do continente de origem, ou seja, interage com o conceito de diáspora, deslocamento de um povo podendo ser forçado ou não. Ao serem exportados, não houveram distinção dos grupos, mesmo com a presença de diferentes povos. Nesse âmbito, é válido destacar a diversidade cultural e religiosa compartilhada entre os indivíduos submetidos a essa circunstância, pois existiu o diálogo e convívio de grupos indígenas e africanos.
Etimologicamente, sincretismo é articulação dos elementos em uma relação em um ou mais campos, ou seja, a reprodução de objetos de diferentes maneiras a depender do seu local. Em decorrência do período, para o ato de escravizar um corpo e submeter sua figura corpórea às vontades do detentor de poder era necessário que a alma caminhasse junto dos seus ideais. Por isso, existia a necessidade de converter a alma das pessoas reduzidas à escravidão que por sua vez tiveram de aceitar as normas e regras a eles impostas, dessa maneira, o sincretismo religioso se alocou lentamente neste paradigma.
Em 1948, Edison Carneiro (1954: 44) apontou que o sincretismo seria uma “segunda natureza” do candomblé, pois, com sua implementação, origina um cenário com pequenos objetos de divergência de sua real natureza. Em funcionamento desse pensamento, pode-se compreender a defesa de uma realidade onde existe a manutenção de ferramentas que venham a viabilizar um cenário de alta semelhança com o objeto original.
Segundo Arthur Ramos, o sincretismo religioso se trata de uma exploração de compatibilidade teológica articulada de acordo com o politeísmo, ou seja, uma espécie de disfarce para a prática do politeísmo. Ramos disseca a ideia de que a implementação do sincretismo permite a adoração politeísta na sociedade de forma legitimada e aceita socialmente, dessa forma, permitindo as práticas candomblecistas e umbandistas.
Esses múltiplos sincretismos são discorridos de diferentes formas.
Com base nas informações supracitadas, conclui-se a importância do papel do sincretismo para a existência, perseverança e luta afro-brasileira em relação à religião de matriz africana em nossa sociedade. Além disso, o sincretismo católico africano estabelece um papel de ligação com as raízes originárias de predominante parte da população brasileira, cooperando, assim, para a memória dos povos africanos.
Sincretismo
Dicio: Junção ou mistura de cultos ou de doutrinas religiosas distintas, atribuindo um novo sentido aos seus elementos: sincretismo religioso.
Referências Bibliográficas
CANEVACCI, M. Sincretismos: uma exploração das hibridações culturais. São Paulo: Studio Nobel, 1996.
CARNEIRO, Edison. (1954) [1948]. Candomblés da Bahia Rio de Janeiro: Editorial Andes.
LEAL, João. TEMATIZAÇÕES DO SINCRETISMO NA ANTROPOLOGIA DAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS (1930-1940)
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