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O USO INDISCRIMINADO DE MEDICAMENTOS E OS RISCOS À SAÚDE




Durante o contexto de pandemia, grande parte da população deixou de frequentar hospitais por medo da exposição ao vírus da Covid-19. Por conta disso, a automedicação, que já era um costume recorrente, tornou-se ainda mais comum. Desde então, os índices de vendas de medicamentos sem prescrição médica aumentaram consideravelmente, o que fez com que a prática de buscar tratamentos sem orientação profissional se mantivesse até os dias de hoje. Entretanto, algo que parece inofensivo, como utilizar por conta própria um analgésico para tratar uma dor de cabeça, pode trazer inúmeras consequências à saúde, as quais podem se manifestar a longo e médio prazo. 


A automedicação corresponde ao uso de medicamentos sem prescrição e acompanhamento médico. É um hábito comum no Brasil, haja vista que, segundo o Conselho Federal de Farmácia, cerca de 77% da população brasileira faz uso de remédios por conta própria, como alternativa de alívio imediato de alguns sintomas, como dores de cabeça e outros. 


 É importante entender que o uso indiscriminado de medicamentos não se dá apenas por meio da automedicação, mas também por qualquer utilização indevida de medicamentos, seja desrespeitando os intervalos de uso ou até mesmo utilizando dosagens incorretas da medicação. Dessa forma, é fundamental reforçar a importância de cuidar da saúde com responsabilidade, a fim de evitar problemas futuros, os quais acabam por diminuir a qualidade de vida do paciente.  


Fatores sociais fomentam a busca por medicamentos que, na maioria das vezes, são ineficazes e/ou desnecessários, levando em consideração o quadro de saúde e os aspectos individuais do organismo do paciente. É indubitável que existe uma pressão social, principalmente atrelada à manutenção de padrões estéticos, que faz com que as pessoas busquem alternativas para atender a uma expectativa coletiva, o que acaba colocando a saúde física e mental em risco. Um desses casos é o uso de remédios sem prescrição médica objetivando o emagrecimento. Atualmente, o Ozempic, indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, ganhou popularidade graças ao aumento do uso para fins de emagrecimento. 


Apesar de realmente apresentar efeito na perda de peso por possuir semaglutida, que é utilizada no tratamento da obesidade, o uso de Ozempic para emagrecer traz riscos à saúde, principalmente quando realizado sem acompanhamento médico. O principal risco está associado ao manejo incorreto da dose e à perda de massa muscular e densidade óssea, o que pode ocasionar uma perda gradual de força e função. 


A popularização do uso de Ozempic e outros medicamentos com fins estéticos ocorreu graças às redes sociais, que fomentam a pressão estética e a busca por mecanismos que tragam resultados imediatos, os quais são, em sua maioria, ineficazes e apresentam diversos riscos à saúde de quem os utiliza de maneira indevida. A cultura de divulgação de fármacos nas redes sociais é algo que coloca em risco a vida de quem consome esse tipo de conteúdo, principalmente quando a indústria utiliza influenciadores com um grande número de seguidores para induzir a compra de medicamentos desnecessários. Sendo assim, é importante discutir não só sobre a responsabilidade social que pessoas com poder de influência possuem, mas também sobre a necessidade de leis que regulamentam a publicidade e propaganda feitas na internet. 


Apesar de existirem leis que buscam erradicar a automedicação, a flexibilização e falta de fiscalização na compra e venda de remédios em farmácias as tornam ineficazes. A facilidade de conseguir remédios sem receita contribui com a utilização indevida de medicamentos.  


O uso indevido de medicamentos é uma preocupação para a própria indústria farmacêutica, haja vista que um dos seus efeitos é o aumento da resistência de vírus e bactérias a alternativas de tratamento de infecções, tornando-as ineficazes, o que faz com que seja necessário desenvolver outros meios para tratar certos tipos de doenças. Além disso, alguns pacientes utilizam tantos medicamentos, em sua maioria desnecessários, que, futuramente, o organismo pode acabar criando certa dependência dessa utilização, fazendo com que funções básicas só possam ser realizadas por meio da intervenção medicamentosa. 


O uso indiscriminado de remédios é, também, uma das principais causas da farmacodependência, que corresponde à dependência de medicamentos. Segundo a farmacêutica Anelise Liduvino, fatores neurológicos associados ao sistema de recompensa do cérebro, modulado pela dopamina, o qual é ativado por algumas substâncias presentes em fármacos, fazem com que crie no paciente a necessidade de estar sempre sob efeito medicamentoso, afetando, inclusive, a forma com que ele lida com atividades cotidianas que antes forneciam prazer, mas que, por conta da farmacodependência, deixam de gerar esse estímulo. 


À vista disso, percebe-se a importância de não buscar tratamento sem acompanhamento médico. Além disso, mesmo com orientações de um profissional, é fundamental ter responsabilidade e atenção ao seguir a prescrição médica, para evitar erros que podem colocar o tratamento em risco e agravar o quadro clínico.  Considerando o contexto brasileiro, analisando o aumento considerável nos índices de automedicação, faz-se necessário buscar outras alternativas terapêuticas que tenham como objetivo auxiliar no alívio de sintomas leves e moderados, sem prejudicar a saúde do paciente. Uma dessas alternativas é a utilização de fitoterápicos e ervas medicinais, que podem substituir medicamentos sintéticos no tratamento de algumas doenças. 


Popularmente, a ação de algumas ervas já é conhecida, principalmente por pessoas mais velhas que carregam esse tipo de conhecimento. Boldo e camomila são exemplos de plantas medicinais que já fazem parte da sabedoria popular e auxiliam no tratamento de mal-estares cotidianos, mas, além dessas, existem outras ervas que não só auxiliam no alívio de sintomas leves, mas também fazem parte da composição de fitoterápicos, medicamentos que possuem plantas medicinais como matéria-prima, auxiliando no tratamento de inúmeras doenças. 

Atualmente, fitoterápicos são utilizados no tratamento de doenças como diabetes, hipertensão e até auxiliam na manutenção da saúde mental. Um dos exemplos mais conhecidos desse tipo de medicamento é a passiflora, muito utilizada no tratamento da ansiedade. A utilização dessa opção terapêutica é positiva por não apresentar uma carga medicamentosa muito pesada, além de não trazer tantos efeitos colaterais, como os medicamentos sintéticos. 

Projetos que buscam promover a utilização de plantas medicinais são reconhecidos e apoiados pelo Ministério da Saúde, a fim de promover segurança e qualidade na oferta de tal alternativa terapêutica. Reconhecer e apoiar essa iniciativa é um passo importante não só para a manutenção da saúde pública, mas também para o reconhecimento da cultura nativa, haja vista que grande parte do conhecimento que se tem sobre plantas medicinais vem dos povos originários, por meio da medicina tradicional. 


A medicina tradicional nativa engloba o uso de medicamentos naturais e o conhecimento acerca da relação entre o ser humano e o ambiente. Ela está muito atrelada à tradição da cultura indígena, o que faz com que seja alvo de muito preconceito. A influência colonial que permanece até os dias atuais fomenta a aversão às manifestações culturais não brancas, descredibilizando o conhecimento proveniente de outros costumes, o que faz com que partes importantes da formação da bagagem cultural responsável pela construção da nação sejam perdidas. Desse modo, uma das preocupações de pesquisadores voltados para o estudo da medicina nativa é sintetizar o conhecimento presente nas aldeias para que ele não seja esquecido. 


Muitas pessoas referem-se ao uso de plantas medicinais como pseudociência, quando, na verdade, existem muitos profissionais que conduzem estudos que de fato validam a eficácia desse tipo de terapia. É importante ressaltar que cada planta possui sua especificidade e que, apesar de ser uma alternativa natural, todo tratamento farmacológico precisa ser reconhecido pela Anvisa e acompanhado por um profissional da área. Assim como os medicamentos sintéticos, os fitoterápicos e ervas medicinais podem apresentar riscos à saúde se utilizados de maneira indevida, afinal existem plantas tóxicas e alucinógenas. Por isso, é importante reconhecer a importância da condução de estudos acerca das aplicações desse tipo de terapia, a fim de compactuar com o desenvolvimento das ciências da saúde, associando-o à cultura dos povos originários.


Mediante a necessidade de criar novas formas de tratamento de doenças além dos medicamentos sintéticos tradicionais, o estudo do potencial terapêutico de plantas medicinais ainda precisa se desenvolver consideravelmente. É importante destacar que, por conta da grande biodiversidade de plantas e do pouco conhecimento acerca do efeito delas no organismo humano, é necessário ter cautela na utilização de ervas para tratamento de doenças. Apesar de ainda não existirem muitos dados científicos concretos, é possível que esse tipo de terapia represente, futuramente, um grande avanço para a medicina e farmácia, principalmente no que se refere à diminuição da dependência e efeitos da utilização excessiva de medicamentos.  



Medicina tradicional mostra eficácia no alívio da dor entre indígenas. In: Agência Brasil. Agência Brasil. 05 ago. 2018. Disponível em: https://www.google.com/url?q=https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2018-08/medicina-tradicional-mostra-eficacia-no-alivio-da-dor-entre-indigenas&usg=AOvVaw3wCLGPTUwby81fvc93xDWE


Fitoterápicos e ervas medicinais podem substituir medicamentos sintéticos no tratamento de algumas doenças. In: Unasus. Unasus. 01 abril 2016. Disponível em: https://www.unasus.gov.br/noticia/fitoterapicos-e-ervas-medicinais-podem-substituir-medicamentos-sinteticos-no-tratamento-de


Dependência medicamentosa: entenda quais os riscos e como se prevenir da adicção. In: Portal de Notícias. Portal de Notícias. 27 nov. 2023. Disponível em: https://noticias.cruzeirodosuleducacional.edu.br/dependencia-medicamentosa-riscos-e-prevencao/


Automedicação pode causar dependência e agravar doenças já existentes. In: CEJAM. CEJAM. 05 mai. 2021. Disponível em: https://www.cejam.org.br/noticias/automedicacao-pode-causar-dependencia-e-agravar-doencas-ja-existentes


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