
Ao se falar do assunto mulheres na ciência, alguns nomes destoam no imaginário coletivo. Personalidades como Marie Curie, primeira ganhadora de dois prêmios Nobel em duas áreas diferentes, e Ada Lovelace, a primeira programadora da história, se fizeram gigantes ao superarem os obstáculos colocados em seus caminhos e que ditavam quem seria digno de fazer ciência. Entretanto, o imenso orgulho pelas conquistas dessas e de outras cientistas mundialmente reconhecidas se opõe ao fato de que, raramente, nomes de mulheres latinas são colocados em postos de destaque dentro das áreas de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
A América Latina, colonizada para a exploração e construída sob uma base fortemente patriarcal, sofre com a desigualdade entre os gêneros, principalmente no mercado de trabalho. As mulheres ganham cerca de 15% a menos que os homens e possuem as maiores taxas de desemprego, de acordo com dados de 2018 da Organização Internacional do Trabalho. A área científica, que já se encontra precarizada devido aos sucessivos cortes de verba e a desvalorização generalizada, pode tornar-se ainda mais complicada quando se é mulher, levando ao questionamento: O que vem sendo feito para a reversão desse quadro?
De início, cabe lembrar que, no ano de 2020, completam-se cinco anos da elaboração dos Novos Objetivos Sustentáveis da ONU, criados com o propósito de traçar planos de ação que visem a prosperidade do planeta. A Agenda a ser seguida, que tem o fim previsto para o ano de 2030, possui como 17º ponto a abordagem acerca da revitalização da parceria global para o desenvolvimento sustentável. Uma das metas principais do objetivo é o reforço do apoio internacional na capacitação dos países em desenvolvimento, visando apoiar os planos nacionais de modo a conseguir cumprir o planejamento traçado em 2015. Através de parcerias e meios de implementação, previstos no documento, as meninas da América Latina conseguiriam desenvolver seus sonhos dentro da ciência e conquistar o seu espaço, contrariando quaisquer tipos de estereótipos excludentes e preconceituosos. Algumas das principais instituições na garantia dessas oportunidades são:
Asociación Red de Investigadoras
Criada no Chile, a organização promove a igualdade de gênero na pesquisa em todas as áreas do conhecimento e dentro das Academias, tornando visível a participação de professoras e pesquisadoras em seus respectivos projetos e locais de trabalho. Ela tem como principal objetivo quebrar as barreiras que impedem as mulheres chilenas de terem uma carreira de sucesso e atua ativamente com pesquisas e organização de congressos.
ONG Conectadas Mx
Fundada em 2018, o projeto criado no México por Maria Elena Estavillo Flores e Adriana Labardini Inzunza tem como objetivo a igualdade de gênero nos setores de telecomunicações e tecnologia da informação e incentivar as jovens mexicanas a adentrarem a área de STEM. Sua criação derivou da falta de participação feminina nesses locais e da escassa ascensão de mulheres aos principais cargos. A organização realiza trabalhos de capacitação e educação através de workshops e mentorias, além de formar alianças com empresas e institutos governamentais, possibilitando a ascensão profissional das meninas.
Red Colombiana de Mujeres Científicas
Criada em 2015, a associação colombiana visa organizar atividades que envolvam ciência, educação, tecnologia e empreendedorismo com foco no público feminino, possibilitando a visibilidade de seus projetos. A rede atua em grupos de trabalho que consistem em: Motivação de meninas na ciência; Tutoria de jovens cientistas; Políticas de gênero na ciência na Colômbia; Gênero, meio ambiente e saúde e Capacitação de cientistas
Red Argentina de Género, Ciencia y Tecnología
A RAGCYT promove um trabalho focado na integração da ciência, acompanhando o andamento de projetos científicos e promovendo a comunicação entre cientistas e acadêmicos da América Latina, desenvolvendo estratégias para a consolidação da consciência de gênero e de plena participação feminina no setor.
Mulheres e Meninas na Ciência da Fiocruz
A Fundação Oswaldo Cruz, mais notória instituição de tecnologia e saúde da América Latina, atua no território brasileiro e faz uso de sua enorme estrutura e abrangência para incentivar a entrada das mulheres na área, comprometendo-se com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Dentro da organização, foi criado um espaço comprometido com a busca pela igualdade de gênero e visibilidade do público feminino, divulgando diversos outros projetos e oportunidades incríveis de emprego e capacitação.
Cátedra Regional UNESCO Mujer, Ciencia y Tecnología en América Latina
Formada em 2001, a associação visa a garantia de direitos iguais para as cientistas em toda a região da América Latina por meio de questionamento de estereótipos, revisão de valores institucionais e criação de programas que garantam oportunidades equivalentes entre homens e mulheres dentro dos projetos de pesquisa.
O caminho trilhado pelas jovens que sonham por uma carreira em STEM continua sendo difícil. A América Latina, de modo geral, continua a ser um dos piores lugares para se viver sendo menina, de acordo com o relatório de 2016 da ONG Save The Children. Devido a crise do coronavírus, os problemas que envolvem o desemprego foram agravados e as mulheres, especialmente afetadas por sobrecarga de trabalho e demissões em massa. Instituições como as citadas acima, entre tantas outras espalhadas pela região, necessitam de apoio e notoriedade para manter os seus trabalhos e salvar o futuro de milhares de cientistas, que dedicam suas vidas em busca da melhora da sociedade, e também na plena garantia dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Que possamos começar a fazer um novo capítulo da história agora, com novos nomes e rostos que representem as nossas origens e nos tragam a luz de um futuro melhor.
Autora: Yasmin Spiegel
BIOGRAFIA
CÁTEDRA REGIONAL UNESCO. Mujer, ciencia y tecnología, 2020. ¿Quiénes Somos?. Disponível em: https://www.catunescomujer.org/quienes-somos/catedra-regional-unesco/ . Acesso em: 13 set.2019
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Mulheres e Meninas na Ciência na Fiocruz, 2020. Mulheres e Meninas na Ciência. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/mulheres-e-meninas-na-ciencia . Acesso em: 13 set.2019.
RAGCYT. Red Argentina de Género, Ciencia y Tecnología, 2020. Institucional. Disponível em: http://www.ragcyt.org.ar/institucional . Acesso em: 13 set.2019.
REDI. Asociación Red de Investigadoras, 2020. Quiénes Somos. Disponível em: https://redinvestigadoras.cl/quienes-somos/ . Acesso em: 13 set.2019
RED COLOMBIANA DE MUJERES CIENTÍFICAS. Red Colombiana de Mujeres Científicas, 2020. Quiénes Somos. Disponível em: https://www.redcolombianamujerescientificas.org/quienes-somos . Acesso em: 13 set.2019
ONG CONECTADAS. Conectadas, 2020. Organización. Disponível em: https://conectadas.org/organizacion/ . Acesso em: 13 set.2019.
CHAVES, Gabriela. Mulheres são mais afetadas na pandemia com desemprego e acúmulo de tarefas. UOL, 10 set. 2020.Disponível em: https://economia.uol.com.br/colunas/gabriela-chaves/2020/09/10/como-o-coronavirus-atinge-as-mulheres-da-america-latina.htm . Acesso em: 13 set.2019.
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