A urgência da inserção de mulheres negras na ciência de dados para o futuro e presente da sociedade brasileira
Por: Cailane dos Santos Gois
Qual é da ciência de dados?
Você, provavelmente, já ouviu falar ou leu que vivemos na Era da Informação, mas você sabe o que é ser cientista de dados? Em um mundo de produção acelerada de dados e informações, é fundamental entender porque essa profissão está em alta e é tão importante para os avanços tecnológicos do século XXI.
A chamada profissão do futuro, a ciência de dados é uma área interdisciplinar que une técnicas para adquirir, armazenar, analisar, gerenciar e publicar dados; assim, gerando informações que auxiliaram na tomada de decisões de negócios ou dentro da instituição em que está inserida. Sabendo disso, o que a diferencia da ciência da computação ou mesmo das análises estatísticas? Segundo a Associação Brasileira de Ciência de Dados (ABRACD), é a junção de “métodos científicos e tecnologias aptas para quantidades massivas de dados estruturados e não estruturados para identificar padrões, com uso de machine learning e inteligência artificial.”
Parece complicado? A verdade é que, com tanta informação, é impossível que o ser humano seja capaz de processar tudo, mas a assertividade na hora de tomar decisões é imprescindível para empresas e até mesmo instituições públicas, por isso as/os cientistas de dados se tornam essenciais. Ademais, quero ressaltar que são esses profissionais que impulsionam o crescimento da automação de máquinas e inteligência artificial com o desenvolvimento de algoritmos para treinar essas tecnologias.
Agora que você está por dentro da ciência da decisão, o que será que as mulheres negras têm a ver com isso?
Primeiramente, a tecnologia não é neutra. Isso significa que ela vai reproduzir os vieses de quem a constrói. E quem a constrói? Segundo uma pesquisa desenvolvida pela PretaLab em 2019, o perfil dos formados em tecnologia no Brasil é de homens, brancos, jovens de classe socioeconômica média e alta. Sendo assim, pode-se concluir que a formação na área tech é permeada pela presença de um grupo minoritário na sociedade brasileira e que possui recursos e privilégios para acessar e se manter (de forma reconhecida) em espaços de poder e inovação tecnológica. Mas por quê? Quando falamos de profissões, estudos ou qualquer tema no Brasil, não podemos deixar de lembrar das estruturas que fundaram e sustentam esse país. A história nos mostra que o racismo e a misoginia não são meros termos, e impactam diariamente a vida de muitas e muitos brasileiros, pela exclusão ou pela concessão de privilégios.
Então, onde estão as mulheres negras? Infelizmente, ocupando os piores indicativos sociais e os cargos mais baixos dentro do mercado de trabalho formal. A desigualdade existente é potencializada no mundo digital, e as mulheres negras se deparam com as barreiras de gênero, raça e classe para adentrar nas áreas de tecnologia, e quando conseguem, passam pela situação de estarem constantemente provando que são capazes de executar a mesma função que seus pares. Indico fortemente que leia os dados divulgados no site do PretaLab.
Segundamente, a inclusão de mulheres negras é uma questão de futuro e presente. Ao entender que a questão da inserção de mais mulheres negras é uma questão estrutural, primeiro é preciso garantir os direitos básicos e fundamentais, isso demanda a atuação do governo com políticas públicas para reparação histórica. É preciso também que os gestores de empresas entendam que incluir não é o suficiente, é necessário garantir a permanência e crescimento dessas mulheres e demais grupos sociais que representam minorias dentro das instituições privadas e públicas. A inclusão é uma questão de presente, porque a diversidade não pode ser mais vista apenas como clichê ou marketing, e sim como a representação da sociedade nos espaços ao invés do que temos - a ascensão do grupo historicamente privilegiado. E ainda uma questão de futuro, porque se a ciência da decisão está na mão do grupo dominante, quem será beneficiado? É óbvio, o sistema se retroalimenta. E se quisermos um futuro mais igualitário, precisamos de pessoas que foram excluídas participando das tomadas de decisão. Por um futuro em que grupos marginalizados não sejam alvos da tecnologia e sim, construtores.
Como? Algumas iniciativas já existem, como a própria PretaLab já citada anteriormente, mas antes de apresentar mais exemplos, abrirei um pequeno parêntese aqui. É fundamental a ação do governo para reduzir as desigualdades, então vote com consciência e se informe com fontes confiáveis.
Por fim, quantas mulheres negras cientistas de dados ou em outra área da tecnologia você conhece? Pense em pelo menos 3 nomes, conseguiu? Se sim, parabéns. Mas, se não, que tal mudar isso hoje ainda?
Iniciativas que impulsionam mulheres negras (mulheres e pessoas negras) a entrar na área de tecnologia:
1. PretaLab
2. O código das garotas pretas
3. Diver.SSA
4. Reprograma
5. Alforriah
6. MinasProgramam
7. Cubos Tecnologia
8. PrograMaria
9. Afroya Tech
10.StemParaMinas (Nós também!)
Mulheres atuantes:
1. Nina dHora (Cientista de Dados, hacker do sistema)
2. Kizzy (Cientista de Dados)
3. Ítala Herta (Fundadora da consultoria Diver.Ssa)
4. Carina Sucupira (Engenheira de dados e líder do coletivo BLACKs) 5. Andreza Rocha (CEO Afroya Tech Hub)
6. Ana Cristina Teixeira (Engenheira de Software)
7. Zaika dos Santos (Afrofuturista, pesquisadora)
Depois de concluir essa leitura, você não pode reclamar de não ter referências. Descolonize sua bolha, aprenda e potencialize outras mulheres. O futuro a gente constrói hoje.
Referências
sobre ciência de dados
Ciência de dados ou Data Science: o que é, aplicações e perfil profissional. Blog FIA (Fundação Instituto de Administração), 2019. Disponível em <https://www.fia.com.br/blog/ciencia-de-dados-data-science>. Acesso em: 12 de dezembro de 2021
Para que serve a ciência de dados ou Data Science. Abracd, 2020. Disponível em < Para que serve a ciência de dados ou Data science (abracd.org) >. Acesso em: 12 de dezembro de 2021
Cientista de dados: ainda precisamos deles quando tudo se tornar automático? MIT Technology Review, 2021. Disponível em < https://mittechreview.com.br/cientistas-de-dados-ainda-precisamos-deles-quando-tudo-se-tor na-automatico/ >. Acesso em: 12 de dezembro de 2021
sobre inclusão de mulheres negras
Preta Lab - Report 2018. Disponível em < https://www.pretalab.com > Acesso em: 12 de dezembro de 2021
Espaço incentiva mulheres pretas a aprender sobre tecnologia. Disponível em <https://casa.abril.com.br/arquitetura/espaco-incentiva-mulheres-pretas-a-aprender-sobre-tec nologia/ >. Acesso em: 12 de dezembro de 2021
"Incluir mais mulheres negras na tecnologia pode ser transformador." Disponível em < https://www.futura.org.br/mulheres-negras-tecnologia/ >. Acesso em: 12 de dezembro de 2021
Conheça 5 mulheres que combatem o racismo e a misoginia na tecnologia - Forbes Brasil. Disponível em <https://forbes.com.br/forbes-tech/2021/10/conheca-5-mulheres-que-combatem-o-racismo-e a-misoginia-na-tecnologia/ > Acesso em: 12 de dezembro de 2021.
Lógico que a tecnologia perpetua o racismo. Ela foi projetada dessa maneira - MITTechnology Review, 2020. Disponivel em<https://mittechreview.com.br/logico-que-a-tecnologia-perpetua-o-racismo-ela-foi-projetada dessa-maneira/ >
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